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Colunista: Luis Felipe

Os donos do mundo

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É janeiro em Porto Alegre. Apesar de algumas temperaturas amenas, decorrentes de um inverno estendido como há muito não se via, os dias são tórridos. Nas ruas, as pessoas suam e caminham mole, carregando uma expressão de irritabilidade. Há um desejo apressado e geral de que esse verão termine rápido. Um dia suportando o calor do sul é o bastante para que se esqueça o quão sofrível é o inverno.
Ignorando o calor, pois é preciso ir para o trabalho ou voltar para casa, as pessoas debatem-se nas ruas por um transporte coletivo. E é justamente em um transporte desses, dentro de um metrô, que ingressa o nosso personagem. Um sujeito comum: a julgar pela regata branca, a bermuda de tactel, o chinelo havaianas. Mas eis que ele carrega enlaçada ao pescoço e suspensa, como se levasse uma bolsa, uma caixa de som gigante. Para perplexidade dos passageiros, o homem embarca com aquela caixa de som ligada no volume máximo.

O trem está cheio. E a partir do instante em que ele embarcou no vagão, o lugar parece ter diminuído de tamanho. A música estridente afeta a todos; nem os prevenidos, os que usam fones de ouvidos caros, ficam livres do ruído externo. Decretou-se, com o ingresso do homem e a sua caixa de som, que naquele trem ninguém mais lê, ninguém conversa mais, ninguém pensa em outra coisa. Todas as atenções estão voltadas para a música alta. Nem mesmo os vendedores ambulantes, acostumados a abafar o barulho produzido pelo atrito dos metais com suas vozes potentes, conseguem anunciar os seus produtos.

A cena que narrei logo acima parece um absurdo. Ninguém ajuizado, ou com o mínimo de consciência, seria capaz de irromper e um trem lotado, em um dia quente e impor uma música alta para que todos pudessem ouvir.

Mas foi exatamente isso o que vi há poucos dias. E o que é pior, vejo fatos assim se repetirem; seja alguém portando caixa de som ou olhando vídeos da internet sem usar fones de ouvido. Ainda poderia falar do motorista que se acha proprietário da via ou do pedestre que ignora a utilidade da calçada. A conclusão é irremediável: algumas pessoas não foram instruídas e não estão aptas a viver em coletividade. Há muita gente nas ruas achando que é a dona do mundo; quando não passam de pessoas folgadas, sem educação.

Minha esposa costuma provocar os seus alunos com uma frase, cada vez que os pega tomando algumas atitudes sem consciência, “Vocês têm duas opções: ou se tornarão pessoas sem noção, ou serão as que observam as pessoas sem noção”.

É uma escolha fácil, desde que se entenda que o mundo não tem um dono.

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