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Colunista: Luis Felipe

Espera dolorosa

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Rodoviária ou cemitério, o que é mais triste?

O embarque de uma estação rodoviária sempre me pareceu um lugar triste. As vitrines das lojas expondo as últimas lembrancinhas. O motorista arrastando melancolicamente as malas até o porão do ônibus. Depois, enquanto os motores esquentam à espera da partida definitiva, vem o abraço da separação entre viajante e quem ficará. O adeus, finalmente, através da janela meio encoberta pela cortina, marca a pior cena.

O viajante parte: às vezes à procura de uma nova profissão, ou vai embora por desentendimento na cidade, ou porque acabou o tempo de visitar a família, ou vai em busca de uma melhor condição financeira, ou corre ao encontro de um novo amor. Mas nada afasta a consequência: quem fica sofre.

O afastamento de quem precisou partir ainda tendo vida é capaz de arrasar mais do que muita morte. Por isso, reitero, uma rodoviária é infinitamente mais triste do que um cemitério.
As despedidas no cemitério, por outro lado, são definitivas. Ali, até que se prove o contrário, existe apenas o lado dos que ficam, dos vivos.

O instante no cemitério nada mais é do que a atração principal de um evento já esgotado. O espetáculo de abertura (o velório), aliás, costuma emocionar muito mais. No enterro o que se vê são pessoas cansadas de sofrer.

As certezas ficam por conta do que é absoluto. Nenhum cadáver se levanta da sua tumba. Ninguém vai a um cemitério para dizer um “até logo”. Todos, após a última cerimônia, por mais doloridos que estejam, tocarão suas rotinas.

Evidente que na despedida da morte também paira uma atmosfera de dúvidas. Em que mundo foram parar os entes queridos? Existe outra realidade depois da morte, ou tudo não passa apenas de um sono profundo, incansavelmente, por milênios, fantasiado pelos seres humanos? Haverá reencontro?

O embarque de uma rodoviária é um local de esperanças dolorosas, pois alimenta aquele adeus de corações palpitantes. Marca o afastamento de alguém que pode nunca mais voltar, mesmo gozando da melhor saúde. Cemitérios, por outro lado, não geram expectativas. Quem permanece precisa seguir adiante, carregando consigo toda a dor.

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