Somente no Brasil, cerca de 100 mil casos de Alzheimer são diagnosticados por ano. Porém os números são ainda mais assustadores, pois apenas 25% dos casos são notificados. Ou seja, a maioria das pessoas afetadas pela doença não tem acesso ao diagnóstico correto, tampouco ao tratamento adequado. A seguir, transcreverei – omitindo nomes e outras informações pessoais – a mensagem de uma filha desesperada com o avanço do Alzheimer em sua mãe e o desamparo do restante dos irmãos.

Olá, irmãos e irmã. A cuidadora e eu estamos acompanhando o progresso da doença da mãe. Infelizmente as coisas andam rápido demais. Venho percebendo o quão rápido ela está avançando. A medicação estabiliza os sintomas por poucos meses. Fomos ao neuro em outubro e ele receitou Quetiapina, o que fez ela melhorar muito. Mas já aumentamos as doses, e agora ela vai ter que tomar 3 ao dia. Hoje ela me telefonou chorando, se sentindo sozinha. Pediu para eu sair com ela. Não sabia nem o dia da semana. Trouxe ela para dar uma volta em Poa. Fomos à Catedral Metropolitana (passeio que ela já esqueceu hoje mesmo, imaginem!). Ela estava insegura, angustiada porque não sabia voltar e temia que eu também não soubesse. Por mais que se sinta perdida, o médico explicou que a interação social fará muito bem a ela. Terça fomos, ela e eu, no Padre Reus, quarta eu liguei e ela queria sair de novo.
Percebo que ela está com dificuldade para caminhar. Comprei uma cadeira de rodas para ela. Vai facilitar essas saídas, já que ela não consegue caminhar porque sente dores nas pernas e nos pés. Aproveitem os últimos instantes de lucidez dela, a memória está indo embora e, em breve, não lembrará mais de nós. Vejo que vocês não telefonam, não visitam, não convidam ela para um passeio; no parque, que seja. Sou a única pessoa que telefona várias vezes na semana. Ela vai partir, não sei quando, mas temo que seja logo e que vocês carreguem remorsos. Me desculpem por chamar atenção assim, mas eu estou aceitando a despedida dela. Mesmo que ela dure mais 10 anos, sua memória não durará. Poxa, ela cuidou tanto da gente, mesmo com os seus problemas e transtornos, ela foi uma heroína. Me considero uma mulher com a cabeça boa, ainda assim, não me imagino criando um filho, imagina cinco, como ela teve. As coisas também foram difíceis para ela, e continuam sendo. Precisamos dividir as nossas dores. Ajudem a mim, ajudem a ela, por favor!
A prevenção dessa doença depende de cada um, cada uma. Leia esta coluna – mesmo que não concorde com nada; leia um jornal, leia livros, pratique atividades esportivas, não consuma álcool em excesso, consuma alimentos mais saudáveis. E, especialmente, dedique mais tempo a quem você ama.