Um protocolo tem sido adotado com frequência nas praias de todo o Brasil. Uma pessoa começa a bater palmas, seguida por outra e outra, até que uma boa parte dos banhistas comecem uma chuva de aplausos. O sinal é útil e indica que uma criança está perdida e à procura dos pais.
De férias, em Santa Catarina, vi por duas vezes esse ritual se repetir. De início, fiquei meio confuso, não sabia se deveria acompanhar a multidão ou se aguardava por um parabéns em espanhol (as praias de Santa Catarina são invadidas por argentinos, paraguaios e uruguaios nesta época do ano). Depois, sabendo do que se tratava, tomei parte nessa iniciativa providencial.
Mas durante essas férias, vi outro fato que me chamou a atenção. Enquanto caminhava na beira da praia, um grupo de brasileiros começou a chamar “Cadê a Iolanda?”. Em seguida, esse apelo cresceu, e mais gente ecoou “Cadê a Iolanda?”. As pessoas se olhavam e repetiam a pergunta “Cadê a Iolanda?”. À indagação, sucedia-se um gesto negativo com a cabeça. Eu mesmo já tinha dito mais de três vezes que não conhecia a tal da Iolanda.
Segui o meu caminho sem desviar a atenção do sucedido. Qual era o paradeiro da Iolanda? Conclui, pela ausência de aplausos, que a mulher não se tratava de uma criança. Pelo nome (e por mero preconceito) pensei nela como Dona Iolanda. Uma senhorinha de cabelos brancos, pele flácida, caminhando devagar e esquecendo o nome dos netos.
Fui me afastando daquele eco absurdo. Ainda podia ouvir distante as pessoas indagando umas às outras “Cadê a Iolanda?”. Àquela altura a frase ganhara tradução “Dónde está Iolanda?”.
Na verdade, pouco me interessava se a Iolanda estivesse perdida; ela não iria longe. Quando muito, Iolanda estava sentada em um bar, tomando uma cerveja e comendo uma porção de casquinha de siri. Ou talvez ela tivesse nadando para além da rebentação. Pode ser também – e essa hipótese era muito possível – que Iolanda estivesse farta de tanta gente e tenha abandonado a praia.
Diferente de mim, ela não gostava da praia; não gostava do cheiro de queijo coalho; não gostava das músicas dos banhistas; não gostava de sentir a areia grudada nos cabelos; não suportava o assédio dos vendedores ambulantes; odiava sentir o gosto salobre, quando passava a língua nos lábios após o banho de mar. A praia de Iolanda era outra. Ela via a felicidade em outras coisas.
Apertei o passo. Eles que a seguissem procurando. Eu queria distância daquela mulher.