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Colunista: Luis Felipe

Nostalgia em acordes

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O ano era 2002. Eu ainda não sonhava em conhecer a minha esposa, e ela nem sabia da minha existência. O movimento emocore emergia no Brasil. Eu era um adolescente cheio de espinhas, usando camiseta preta do avesso, ia a shows de rock, mas, na minha intimidade, venerava bandas como Reação em Cadeia (inclusive, eu tinha uma camiseta deles).

Agora, estamos em agosto de 2024, em Porto Alegre. Mais de vinte anos se passaram desde o primeiro show em que minha esposa e eu vimos Jonathan Corrêa subir aos palcos pela primeira vez. Somos um casal beirando os quarenta anos, prestes a assistir, muito tempo depois, a um show da nossa banda favorita da adolescência. O espetáculo está programado para acontecer no lendário palco do Auditório Araújo Vianna. Antes do show, sentimos uma certa apreensão e muitas dúvidas. Será que vai ter público? Como estarão vestidas as pessoas? Qual será a faixa etária dos espectadores? Como estará a voz do vocalista?

Logo na chegada à avenida, um estranhamento: trânsito congestionado, muitos flanelinhas, guardas de trânsito. Um show lotado. Quanto a Jonathan Corrêa, está impecável. O mesmo timbre grave, imitando Eddie Vedder em seus melhores tempos. Os cabelos longos, jaqueta de couro, calça jeans preta rasgada. As mulheres enlouquecidas pelo galã. Afinal, o tempo não havia feito tanto mal a ele. Mas e o estado do público?

Ponho-me a observar. Muitos semelhantes a nós, entre trinta e quarenta anos. Casais, na sua maioria. Diante de mim, por exemplo, um rapaz vestindo um moletom desbotado e um tênis All Star sujo; ao seu lado, uma mulher com calça de couro e cabelo platinado. Olha a minha frente e vejo o efeito do tempo: muitos homens com calvície avançada no topo (tal como eu), outros, mais azarados, já completamente carecas. As mulheres, antes tão ousadas com seus cabelos coloridos e roupas pretas, hoje desfilam com cabelos tingidos e uma profusão de blusas de oncinha.

E então, Jonathan pede o apoio da plateia, para pular e erguer os braços. Os espectadores tentam acompanhar os pedidos do vocalista, mas os saltos e movimentos rápidos parecem pesar mais do que antes. Os sinais do tempo são evidentes, mas isso não diminui a empolgação de reviver um momento do passado.

Chegamos ao fim da noite, olho os rostos na saída. Alguns parecem cansados, outros satisfeitos. Há também os eufóricos e os indiferentes. E quanto a mim, o que sinto? Sinto que aquele espetáculo acabou, assim como o ano de 2002 um dia ficou para trás. A sensação de curtir um show de rock permanece eterna dentro de mim, mas o tempo continua implacável, avançando como sempre.

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