Em 1994 eu tinha 8 anos e consumia metade da minha rotina jogando futebol – a outra metade eu gastava pensando em futebol. Para agravar as coisas, aquele era ano de Copa do Mundo.
Assisti aos jogos do mundial numa televisãozinha de tubo, catorze polegadas, a primeira TV a cores que tivemos em casa. A exemplo de hoje, em dias de jogos da seleção, via-se pouca gente na rua. Pairava no ar um clima meio apocalíptico ou como se os dias todos houvessem se transformado em domingos. Era praxe assistir às partidas do Brasil narradas pelo Galvão (isso dá vergonha admitir, eu sei). Enfim, gostemos ou não dele, nossa memória sonora e visual fez o registro, talvez para sempre, daquele “acabou, acabou”, seguidos de “é tetra, é tetra” e a imagem do seu abraço em Pelé.
Depois do título de 94, veio o mundial de 98, disputado na França, e que ficou marcada pela decepção – esperávamos mais dos nossos craques. Eu, na época prestes a me tornar adolescente, assisti ao show do gênio Zidane numa televisão de vinte e uma polegadas.
Vou pular 2002 (apesar do título), 2006 e 2010, e avançar direto para o 7 a 1. Este sim, um evento que merece destaque.
Eu tinha 28 anos em 2014 e assisti àquele jogo em um bar, num telão enorme, ao lado da minha mulher. Fiquei apático e abatido, tal qual nossa seleção em campo, olhando a Alemanha fazer um gol atrás do outro. No fim, acabei minha cerveja e convidei minha mulher para irmos embora. Aquilo era a vida adulta: dura e inexplicável, às vezes.
Eis que chegamos em 2022. A seleção parece curada do vexame de 2014 e a sexta posição em 2018, se não foi a ideal, serviu para nos devolver um mínimo de dignidade. No país, armargamos mais de dois anos de pandemia e uma polarização política atroz, que já fez muita gente brigar e até se matar (olha que página triste).
Devemos concordar que vencer uma Copa do Mundo não garantirá comida na mesa de ninguém. Além disso, nem todos gostam de futebol, nem todos aprovam as convocações do treinador, nem todos vão com a cara desses jogadores que vestem a camisa amarela. Mas o que não podemos menosprezar é a força desse esporte no nosso país.
Enquanto escrevo esta crônica, sinto crescer em mim uma vontade imensa de que o Brasil vença. Mesmo que isso não ponha fim aos nossos problemas, acho que precisamos de alegrias, mesmo as mais efêmeras, para tocar a vida.
Como seria bom assistir, dessa vez não importa se em tela ou ao vivo, dois desconhecidos trocando abraços, felizes pelo Brasil. Aí sim, sairemos vitoriosos dessa copa.