Nos últimos dias fomos surpreendidos com duas notícias que despertaram sentimentos diversos em todos nós, como raiva, pena, compaixão, tristeza, entre outros. Infelizmente, episódios como estes vêm ocorrendo com tanta frequência que nos fazem pensar para onde estamos indo, como lembra a música de Lulu Santos, “para onde está caminhando a humanidade?”
Na semana passada, o desaparecimento do menino Miguel, de sete anos, supostamente morto pela mãe e a madrasta, como elas próprias confessaram, no município do Imbé, gerou grande indignação e revolta pela frieza da mãe ao relatar como ela teria matado seu próprio filho.
Dias depois, o adolescente Lucas Santos, de 16 anos, foi encontrado morto em Natal, no Rio Grande do Norte. Conforme a mãe, Lucas cometeu suicídio após receber mensagens de ódio nas redes sociais, com uma enxurrada de comentários homofóbicos em um vídeo publicado em uma rede social. Na gravação, ele aparece fazendo brincadeiras com um amigo, de também 16 anos.
Como bem falou a mãe de Lucas, “a internet está doente”, ou seja, as pessoas estão doentes, pois existe vida por trás dos perfis das redes sociais. A internet se tornou um ambiente hostil, onde todos têm uma opinião, mas poucos têm fundamento e muitos estão lá só para agredir e disseminar ódio.
Como diz o filósofo Mario Sergio Cortella, as mídias sociais favoreceram o despontar de um palanque também para a imbecilidade, pois com a democratização da comunicação, temos o adensamento da comunicação superficial, na qual todos têm alguma opinião sobre algo, mas poucos têm fundamentos refletidos e ponderados para iluminar as opiniões.
O problema se torna ainda maior quando essas “opiniões” atingem pessoas que não são capazes de lidar com agressões, principalmente relacionadas ao preconceito racial e sexual. No caso de Lucas, ele era depressivo, mas não era homossexual, mas mesmo assim não conseguiu filtrar os xingamentos e comentários disparados contra ele e o amigo.
Na internet, por trás das redes, todos somos juízes e achamos que temos o direito de falar e opinar sobre o que bem entendemos. A cultura do cancelamento, recentemente inventada e amplamente divulgada, trata-se de uma onda que incentiva pessoas a deixarem de apoiar determinadas pessoas, personalidades ou empresas, públicas ou não, do meio artístico ou não, em razão de erro ou conduta reprovável. Ou seja, se você não pensa, age ou fala como eu, você certamente será cancelado.
O alerta feito pela mãe do Lucas também quer dizer que as pessoas estão doentes e estão usando a internet para cobrir sua insegurança, medos e problemas. Quando eu falo mal do outro, dissemino ódio e provoco desavenças, estou tentando esconder e aliviar minhas frustrações internas. Eu digo que o outro é feio, pois assim eu não me sinto feio sozinho.
Já a morte do Miguel não tem relação com a internet, mas reforça a tese que as pessoas estão cada vez mais doentes mentalmente, o que nos causa medo e incerteza por este caminho que estamos seguindo.