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Colunista: Luis Felipe

Adeus ano novo

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Você olha para o ano de 2022 e ele promete: tem a possibilidade de novas variantes da Covid-19, eleições, Copa do Mundo, o seu Grêmio na série B. Como eu disse, seu ano está recheado de emoções.
Seus dias são iguais, é verdade, mas uns mais iguais que os outros – como diria Humberto Gessinger.

Basta uma renovação de calendário para você escrever novas metas e enfiá-las dentro da carteira. Lá está escrito que você vai ler mais, entrar num graduação nova, engravidar, trocar de carro, adotar um hamster-chinês, juntar dinheiro, não falar mal dos outros, trocar de emprego, começar a fazer academia, iniciar uma terapia, mudar o corte de cabelo, terminar o casamento, arrumar novos amigos, conhecer o Recife, aprender a tocar bandolim. Tudo, que em resumo, poderia ser trocado pela expressão “dar um jeito na vida”.

Mas logo logo, ali por janeiro e fevereiro, os planos começam a ruir. Você se empepina com o cartão de crédito, em dívidas do ano passado. Os planos de trocar de carro vão se apagando. Você, a essa altura, nem quer ouvir falar de filhos, se mal tem dinheiro para pôr gasolina (item de luxo), quanto mais para comprar fraldas.

Os meses vão passando e a sua barriga está crescendo. O trabalho vai sufocando você, até torná-lo um ser autômato, que repete tarefas: levanta, trabalha, volta para casa, toma uma cerveja e dorme. Não há tempo para a academia, muito menos para terapia ou ânimo para uma graduação nova. Ah! E nem para ler. Imagina se tivesse um hamster-Chinês? Você nem sabe o que ele come, se plantas, ração ou sementes de girassol. Está sem tempo, de qualquer maneira o bicho morreria de fome.

O relógio dos meses não para. Você anseia pelas férias do final do ano. Está de saco cheio de ouvir os políticos mentirem no rádio. O pior é que todo dia na hora do almoço você fala mal do seu vizinho, afinal, vocês têm posições políticas diferentes. Já viu o Brasil não vencer mais uma copa e nem pode ver a cara dos jogadores, que só sabem se cobrir de tatuagens e usar chuteiras coloridas. O verão está se aproximando, e o Recife parece estar em outro continente. No seu emprego, seu chefe está lhe prometendo uma promoção há horas. Você acredita e se prende a este trabalho.

Falando em prisão, o seu casamento deu uma melhorada. Agora você faz sexo duas vezes por mês e começaram a conversar mais no café da manhã. Seu cunhado se mudou para longe e você percebeu que muitas das suas brigas eram por causa da interferência do sogro, que finalmente morreu. Decide que o casamento de vocês merece mais essa chance, mais esse ano de sobrevida.

O final do ano vai se aproximando. O réveillon é marcado na casa dos amigos. E sem querer, na hora de puxar a carteira para rachar a conta da noite, você esbarra numa lista de metas amarrotada, que está junto com o cartão de um salão que você foi no início do ano. As lembranças vem com força. Você corre os olhos pela lista. Nenhum amigo novo. Mudar o cabelo? Há anos você usa o cabelo assim. E lá no final da lista: aprender a tocar bandolim. Ora, bandolim, não foi você quem escreveu essa lista.

Você pega aquele papel e o rasga em mil pedaços.

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