Dia 28 de julho é comemorado o Dia do Agricultor. Para parabenizar estes trabalhadores, a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto publicou uma homenagem que dizia “Hoje homenageamos os agricultores brasileiros, trabalhadores que não pararam durante a crise da Covid-19 e garantiram a comida na mesa de milhões de pessoas no Brasil e ao redor do mundo”. O reconhecimento é mais que justo e merecido, já que a agricultura não para nunca, nem mesmo durante a pandemia do coronavírus, nenhuma mesa ficou desabastecida por que a agricultura parou.
O que chamou a atenção, porém, foi a foto escolhida em um banco de imagens que mostra um homem segurando uma espingarda no ombro em meio a uma plantação. Pelo o que se observa, a campanha faz alusão à política armamentista, bandeira defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, que em 2019 sancionou uma lei que estendeu a posse de arma ao proprietário rural.
Conforme destacou o site Uol, no ano passado, o número de conflitos no campo bateu recorde no Brasil. Ao todo, foram registradas 2.054 ocorrências, envolvendo quase 1 milhão de pessoas. No entanto, a maioria dos conflitos no campo envolveu a opressão de povos originários, quilombolas e trabalhadores rurais sem-terra. Dentre os casos registrados no ano passado e levantados pela entidade, ocorreram 18 assassinatos — e em sete deles as vítimas eram indígenas. Por isso, não faz sentido nenhum o governo federal querer exaltar o uso de armas pelos produtores.
Logo depois de publicada, a postagem foi alvo de várias críticas dos internautas: “Opa, Secom, aqui onde eu moro os agricultores usam enxadas… Não sabia que por aí vocês aram a terra dando tiro no chão”; “Juro por Deus que até agora não consegui fazer a relação entre a imagem do homem armado e um agricultor”; “Sim, todo agricultor planta com uma mão e segura a espingarda com a outra”. O assunto foi um dos mais comentados nas redes sociais na quarta-feira.
Foi uma ideia bastante infeliz da Secom, pois claramente, a publicação não homenageia o pequeno agricultor que é quem, de fato, trabalha de sol a sol, com pandemia ou sem pandemia. A postagem agride o homem do campo que, como bem lembrou o próprio governo, garante comida na mesa, não só dos brasileiros, mas de boa parte do mundo, já que muito do que é produzido aqui é exportado para outros países.
Colocar um agricultor armado no seu dia é tão fora de contexto, assim como comemorar o “Dia do Soldado”, 25 de agosto, com um militar levando uma enxada na mão ou uma colheitadeira. Após a enxurrada de comentários, a Secom apagou a publicação.