No dia 15 de outubro, os professores foram agraciados com um dia de folga em comemoração ao “seu dia”. Curti boa parte do meu descanso de forma inusitada: corrigindo trabalhos de escrita de alunos do sexto e do sétimo ano.
Um fato emblemático — e que, certamente, não se restringe a este profissional.
Não me considero o maior trabalhador do mundo, tampouco desejo aplausos ou um muxoxo acompanhado de um “tadinho”. Quero apenas chamar atenção para a patente – e cada vez mais alarmante – desvalorização da categoria, ano após ano.
Que o professor já não é mais autoridade em sala, sabemos há tempos. Não é algo de agora. Décadas de políticas desastrosas e de pouco incentivo à educação resultaram em uma cultura voltada à frivolidade e ao sujeito desprovido de pensamento crítico. O que se torna evidente – e a cada dia mais revoltante – é a nossa inércia diante dessa situação, que tende a se agravar ainda mais.
Na contramão desse cenário caótico, em que os profissionais sofrem com o achatamento salarial, a indisciplina em aula (pesquisa recente mostrou que os professores gastam mais de 20% do tempo tentando manter a ordem), a violência, a falta de infraestrutura e tantos outros problemas, o governo do Rio Grande do Sul acaba de anunciar o repasse de verbas para premiar alunos bem avaliados no simulado do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica).
Ou seja, o estudante que obtiver boa nota – em uma prova que serve para elevar os índices da educação no estado – será premiado.
Para bom entendedor, meio fato basta: sobra dinheiro. Tanto que se paga o aluno para que cumpra o que é, afinal, seu dever – estudar e tirar boas notas.
O efeito da notícia entre os professores, nem preciso dizer, foi de indignação. Pois bem: há recursos para premiar estudantes, mas até quando os docentes seguirão desvalorizados?
Por outro lado, e para não parecer advocacia em causa própria, um novo questionamento se impõe: a que ponto chegaremos, já que estamos pagando para que o aluno estude e tenha bom desempenho? Não seria absurdo imaginar que, em breve, estarão pleiteando melhores salários — e, quem sabe, em estado de greve.
Dica de filme: Ao mestre, com carinho (1967).
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