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Colunista: Luis Felipe

Ontem fez um dia lindo

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Ser jovem é não ter certezas absolutas do amanhã.

Não recordo direito a data, talvez fosse 2004 ou 2005, eu tinha dezoito ou dezenove anos. Ou seja, não era mais um adolescente, embora ainda fosse bastante jovem. Naquela época tinha um amigo que era unha e carne. Compartilhávamos os mesmos gostos musicais, as mesmas roupas, as mesmas amizades, os mesmos projetos de futuro e, em especial, um mesmo desejo: ficar com a maior quantidade de gurias possíveis. No que éramos um fracasso retumbante.
Mas naquele ano decidimos mudar as coisas.

Escolhemos um dos maiores eventos do estado, a Expointer, que se realiza na cidade em que moro hoje – Esteio – e bolamos um plano: chegar (era a palavra que a gente usava) e, com sorte, beijar quantas gurias conseguíssemos. Então vestimos nossas melhores camisetas de rock, tomamos banho com nossos perfumes baratos, pegamos a Trensurb e partimos para Esteio.

O plano foi um desastre – em parte. Abordamos vários grupos de gurias, mais de quinze, certamente, e só tivemos sucesso em uma investida, dando um beijo cada. Lembro que comemoramos, como dois jovens-adultos-idiotas ou como se o nosso time tivesse marcado um gol.

E não era para se comemorar? Éramos dois caras comuns, inseguros, sem assunto e com dinheiro contado para tomar um trem e comer cachorros-quentes com refrigerantes.

Olho para trás com um pinguinho de vergonha. Mas não deixo de imaginar que o passado transmite ricos aprendizados.

Hoje tenho dificuldade em me imaginar interpelando mulheres desconhecidas na rua. Porque, convenhamos, nossos métodos eram pouco distintos (ou respeitosos): consistia em puxar pela mão, dizer um oi e tascar um beijo sem que a menina tivesse tempo de recusar.

O que ficou de positivo da situação foi nossa perseverança. Insistimos, insistimos, até atingirmos o objetivo. Não era a melhor forma, por óbvio. Sabemos hoje que uma conversa franca e gentil surtiria mais efeito.

Mas como saberíamos disso naquele tempo? Éramos mais jovens e um pouco inconsequentes. Acho que os anos passados nos absolveram de qualquer culpa ou remorso. Além do mais, gestos imaturos, às vezes, nos conduzem a bons caminhos.

E será que não estamos pensando demais no futuro e isso nos impede de triunfar? Quem sabe seja a hora de esquecer o amanhã. Uma vez, que seja.

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