Um fato que ocorreu comigo dias atrás suscitou análises.
Entrei numa loja à procura de móveis e fui direto à atendente para saber dos valores. Sou do tipo de pessoa que gosta de conversar com desconhecidos, a despeito da minha timidez. O que não percebi, naquele primeiro instante, foi que aquele não seria um bom diálogo. Para resumir, tivemos um pequeno desentendimento, por um motivo tolo: valores.
Achei deselegante a atitude da atendente, que viria saber – no meio do conflito – ser a dona da loja. Com isso, saí do estabelecimento chateado, mas aliviado por não ter sido grosseiro.
Em casa, surgiu o dilema: deveria acessar o Google e narrar o ocorrido dentro da loja? Com trinta e cinco anos vivendo incansavelmente comigo mesmo, imaginei que já me conhecesse o suficiente para saber que as melhores resoluções tomo quando estou calmo. Então, esperaria um ou dois dias para decidir.
No fim do primeiro dia, resolvi: contei tudo na Internet; descarreguei um extenso desabafo de quinze linhas.
Os dias passaram sem uma resposta por parte da loja. Mas havia dentro de mim um incômodo, que não estava relacionado à ausência da réplica: não estava em paz.
Numa decisão final, liguei o computador e apaguei o comentário. Como desconfiava, a serenidade foi restabelecida.
Por que a indecisão? Por que escrever? Por que apagar o comentário? São tantas as dúvidas que seriam necessárias muitas sessões de terapia para resolvê-las. Mas, tenho algumas pistas.
a) Porque eu estava enganado: não me conheço o bastante. O sensato seria refletir por semanas – não dois dias -, antes de qualquer decisão.
b) Escrevi o comentário porque estava ferido. Fiz no impulso de revidar e fazer feridos.
c) Apaguei o comentário porque percebi que deixando-o lá eu demonstrava o quanto era vulnerável. Afinal, dediquei meia hora da minha vida para escrever um texto de mágoas.
d) Por fim, deletei o comentário porque não tinha mais a certeza se ela estava errada. Quem sabe eu tenha sido indelicado e ela apenas reativa. Ainda – em outra hipótese – talvez eu tivesse sido sensível demais.
Cabem outras análises, livres.
De toda a forma, apaguei o comentário. Como dizíamos quando crianças após uma briga: fizemos as pazes – sem que ela soubesse. E o melhor, fiquei quite comigo mesmo.
Dica de filme: Em um mundo melhor (2010).