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Colunista: Luis Felipe

Coluna: Recolhendo saudade

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Certa vez, quando criança, ganhei dez reais de presente. Naquele tempo, dez reais era um valor alto. Imagina esse dinheiro nas mãos de uma criança na década de noventa? Poderia comprar um Kinder Ovo, um Diamante Negro, chicletes Ping Pong (pela figurinha), um Fandangos (pelo tazo) e fechar o dia bebendo uma Miranda em garrafa de vidro.

Mas eu precisava curtir por mais tempo aquela grana toda nas minhas mãos. Decidi que não gastaria de imediato; enfiei o dinheiro no bolso da bermuda e fui brincar na rua. Não deu outra: corri até perder os dez reais. Procurei por tudo, nas ruas cheias de pedra de Uruguaiana, no bolso da minha bermuda (quinhentas e vinte e cinco vezes), e até acendi vela para o Negrinho do Pastoreio. E nada. Desconfiei, à época, que um dos meus amigos ficou com o dinheiro. Como nunca fui vingativo, desejei apenas que ele comprasse muitos doces, tivesse três dias de diarreia e quebrasse o pé correndo na próxima brincadeira.

Se extraviar dez reais causa estrago, imagina um valor maior? Imagina perder um animal de estimação? Imagina perder uma pessoa (não por morte)?

Pois é, foi numa situação dramática dessas que minha cunhada se viu envolvida dias atrás quando perdeu seu gatinho Nico. O incidente ocorreu quando um Pitbull do vizinho invadiu o pátio e abocanhou o gato na barriga, fazendo o bichinho fugir ferido e assustado.

Desde esse dia, ninguém soube notícias do Nico. Minha cunhada procurou, organizou equipes de buscas, espalhou cartazes, fez apelos na Web, ofereceu recompensa. E nada do gatinho aparecer.
Quanto mais os dias passavam, mais íamos perdendo a fé de encontrá-lo. Eu mesmo, confesso, pensava que Nico a essas horas já afiava suas unhazinhas em outro plano espiritual.

Mas qual seria a graça se a vida seguisse somente o curso que a gente roteiriza?

Ainda no vigésimo dia de buscas, minha cunhada postou uma foto abraçada com Nico no colo e uma frase mais ou menos assim: “Não vou desistir de ti, meu amigo”.

No vigésimo primeiro dia, pela manhã, encontraram o gato. E, apesar do pelo encardido e dos ossos furando a carne, Nico tinha a mesma cara, os mesmos olhos servis e atentos, como os de qualquer felino.

Agora, olhando essa história toda com um final feliz, imagino algumas hipóteses para a fuga de Nico. Opção 1: ele foi atrás de aventura. Opção 2: ele queria dar um susto na humana de estimação. Opção 3 (a que mais acredito): Nico fugiu porque queria testar o amor da dona, e não arranjou melhor maneira de fazer isso do que espalhando saudade.

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