Colunista: Luis Felipe

A chamada

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Mal sabia eu que minha vida mudaria quando, há pouco mais de um mês, recebi na caixa de entrada do meu e-mail uma convocação para tomar posse como professor de Língua Portuguesa no município de Porto Alegre.

Estagnado havia quase doze anos em um serviço público estadual, me vi diante de um dilema: continuar minha rotina estafante e confortável ou aceitar o desafio de me lançar em um trabalho sobre o qual mantinha graves ressalvas? Ainda com aquele e-mail diante de mim, eu sabia, no fundo, que o caminho estava decidido. Precisava mudar. Precisava colocar meu intelecto em ação, fazer novos colegas, aprender através do ensino.

No dia 23 de novembro, retornei para a sala de aula, agora como professor.

Os receios eram infinitos (ainda o são, vale reforçar): será que eu teria algo a transmitir para crianças e adolescentes, tendo me formado em 2016 e sem experiência com ensino? Como os alunos receberiam um professor claramente neófito na profissão? De que forma eu coibiria a indisciplina e o desrespeito em? E, caso não me adaptasse, como iria me sustentar, já que havia pedido demissão do estado?

Esses receios tinham fundamento. Eram lógicos, racionais, verdadeiros. Todo professor, experiente ou não, enfrenta questões como essas. Mas, no meu caso, o drama era maior: a decisão de pedir demissão significava colocar em risco a economia da minha casa por conta de uma intuição.

Sim, segui minha intuição. E, vale lembrar, intuições são respostas rápidas do nosso cérebro e advém de prognoses científicas, devidamente elaboradas no mais ínfimo recôndito cerebral. Aqui vai uma dica: se você não for com a cara de alguém, desconfie. E se não gostar da capa de um livro, não o compre. Nem sempre a razão explica, mas a intuição raramente falha.

Voltando à minha decisão: abracei-a, em conjunto com minha parceira, que também é professora. Denise leciona Língua Portuguesa há pelo menos uma década.

Desde então, sou professor. E, para minha total surpresa, apesar da má reputação atribuída às turmas de 6º e 7º anos, tenho achado a experiência incrível.

Cada dia em que entro em sala e vejo aquelas carinhas – tão despreocupadas em relação ao futuro, tão agitadas pela transição hormonal e tão seguras do presente –, deixo que recaia sobre mim, sem medo, toda a responsabilidade de ser educador.

Dica de filme: Ao mestre, com carinho (1966).

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