Ô coisa difícil de definir é a tal da felicidade. Por isso mesmo, costumo substituí-la pela expressão bem-estar.
Por exemplo, sinto um bem-estar quando escrevo esta coluna. Sinto um bem-estar quando o meu time vence um jogo difícil, quando vou a um bom show, quando engato uma conversa animada com os amigos, quando consigo quitar as contas do mês, quando como bergamota no sol do inverno, quando tomo uma cerveja gelada na beira da praia no verão, quando leio um bom livro ou assisto a um filme que me faz ficar reflexivo no dia seguinte.
O bem-estar é subjetivo. O que melhora meu dia, nem sempre melhora o seu e vice-versa. Posso amar o frio, desde que eu não seja um morador de rua desprovido de roupas para me proteger da noite gelada. Você pode adorar pão feito em casa, enquanto em mim o mesmo pão traga mal estar por conta da azia.
Mas e a felicidade, o que é? Sinceramente, não sei, mas desconfio de que não seja nada do que as pessoas pensam.
Vejo muita gente dizendo quando me aposentar, vou viver minha vida. Em outras palavras, quando me aposentar, serei feliz. Lamento dizer, não será. Ou então quando tiver dinheiro, vou ajudar muita gente.
Como se isso, por si só, garantisse a felicidade. Não garante. E como estes, há outros exemplos quando encontrar meu grande amor, serei feliz, quando tiver filhos, serei feliz, quando tiver o emprego dos sonhos, serei feliz, quando tiver casa, serei feliz. Não, se você não se sente bem com o que há de concreto, acredito que não será feliz com algo que nem é real ainda.
Estou convencido de que não são fatores assim, grandiosos e utópicos, que trazem a tão sonhada (e ainda sem consenso) felicidade. Se a pessoa é incapaz de sentir bem-estar agora, nesse exato momento, que é o único que importa e nas coisas mais simples, como brincar com o cachorro, assistir a uma novela, ler um jornal, ela nunca terá bem-estar por completo. Pelo simples fato de que está depositando esperanças no futuro. E o futuro é enevoado. Nada garante que você chegará ao final do dia amanhã com seu coração ainda batendo.
Portanto, esperar pela felicidade ou depositar essa expectativa em terceiros é penar em uma estação, esperando um trem que nunca virá. Por outro lado, conseguir desfrutar do bem-estar de pequenas coisas é tomar a condução mais rápida com destino à – ainda difusa – felicidade.