Colunista: Luis Felipe

O silêncio é uma graça

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O americano John Francis tinha 25 anos quando tomou a decisão de parar de falar e assim permaneceu por 17 anos. Pois, segundo ele, não tinha nada que realmente precisasse dizer. Uma decisão radical. Por óbvio esse foi um ato político, simbólico, um lance de marketing.

Duvido que John Francis tenha passado tantos anos quieto. Ele deve ter se distraído e cantarolado uma canção antiga, pedido para que alcançassem o sal ou falado alguma coisa em sonho.

Brincadeiras à parte, o ato de se comunicar constitui uma característica natural a todos os seres humanos. Por isso, apesar de John ter parado de proferir palavras, ele seguiu se comunicando; mesmo que fosse através das suas atitudes.

Ainda assim, vejo com bons olhos a conduta do americano. Quem é capaz de se manter em silêncio?
Meus pais costumam dizer que as crianças de hoje já nascem falando. É possível complementar que nascem falando e postando vídeos no Tik Tok. Nunca o ser humano se comunicou tanto (mesmo que seja através dos 280 caracteres do Twitter). É verdade que a maciça quantidade de mensagens são trocadas através de celulares conectados via internet; ainda assim é uma comunicação rápida, impossível de ser ignorada.

Foram-se os tempos de ouvir os mais velhos contar causos até tarde enquanto fazíamos da lua a única luminária. Ninguém parece ter tempo hoje de escutar longas histórias ou de anotar uma receita da família. Tudo está pronto, resumido e armazenado no Youtube.

Agora eu pergunto, não estaríamos vivendo em um mundo com excesso de informações?

Eu sei, é impossível frear as notícias. Todo dia tem o falecimento de uma pessoa famosa, uma tragédia de grandes proporções, uma possibilidade de guerra no outro lado do Atlântico, o risco de uma nova epidemia, um escândalo político inédito, uma fofoca envolvendo celebridades.

As informações até podem ser úteis. Mas, assim como acontece em uma boa conversa, precisamos de uma dose de silêncio para digerir o que o interlocutor comunica.

Senão corremos o risco de entrar em um diálogo maluco, em que todo mundo fala ao mesmo tempo – e ninguém se escuta.

Sugestão de filme: Ruído branco (2022).

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