Colunista: Luis Felipe

O primeiro beijo de paz – Parte 1

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Passeávamos à beira da lagoa de Imbé, minha esposa, minha cachorrinha e eu. Alguns pássaros saltitavam no arrimo que costura o passeio, enquanto outros faziam vôos rasantes sobre a água à caça de alimento. Nas margens, pescadores arremessavam suas redes e as recolhiam com poucos peixes capturados. Com os olhos à frente, esperávamos o espetáculo principal: o afamado balé acrobático dos botos.

Era agosto. Mês em que o habitual seria encararmos um tempo cinza, ventos finos e frios vindos do oeste. Mas o que víamos naquele dia era um sol acolhedor, muitas pessoas transitando sem rota definida; algumas roíam amendoim, outras lambiam sorvetes, havia ainda quem apenas parasse de braços dados olhando para a água, como a esperar dela uma resposta.

Nossa cachorra – uma vira-lata obediente – transitava sem coleira. Era monitorada pelo nosso olhar, e atendia a algum comando mais autoritário quando ameaçava se distanciar.

E foi a respeito disso (a obediência da nossa cachorra) que conversávamos enquanto curtíamos o passeio. Para dizer a verdade, sobre a disciplina da nossa pet, numa conversa que derivou para a liberdade e foi desaguar, por fim, na educação de filhos (que não temos). Falávamos do quanto a desobrigação da paternidade nos livrava do compromisso de educar – e julgamos aquilo um bem precioso. Veja só, minha esposa dizia, poder caminhar por aqui sem ter uma criança azucrinando. Eu concordava, sim, era de fato um benefício ter apenas um cachorro: não trocar fraldas, contratar babá, ver creche, decidir qual linha pedagógica aplicar, construtivista, comportamentalista ou outra?

Mas foi cruzar próximo a um casal e um menino que os pensamentos ganharam outros rumos. Um pai berrava xingamentos segurando e erguendo a criança pelas orelhas. Tudo à vista da mãe e das outras pessoas. O menino encolhia-se de dor e, quando ia chorar, o pai mandava-o ficar quieto, sob a ameaça de apanhar mais.

Aquilo, de alguma forma, frustrava nosso passeio. Queríamos ver a paisagem, não assistir a um episódio de covardia. E então, como agir diante daquilo?

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