Colunista: Luis Felipe

A nossa história

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Uma mente jovem cai fácil em armadilhas. Basta imaginar que o tempo presente comporta tudo, e que antes não havia histórias.

Dias atrás peguei uma conversa do meu pai e um amigo seu. Ambos – quase sexagenários – falavam do passado. Meu pai narrava as aventuras da juventude; falando dos bailes que terminavam em amassos no escuro; dos passeios à casa da luz vermelha (é assim que se chama bordel na fronteira); das bebedeiras e farras com violões, que só tocavam Jovem Guarda.

Lá pelas tantas, para minha surpresa, contou que uma vez pegara gonorreia. Enquanto falava daquela experiência desagradável, o amigo o observava com atenção. Com aquele queixo erguido e olhar fino, que só a idade é capaz de trazer.

Depois de escutar meu pai, o amigo contou também suas peripécias da juventude. Disse, além de outras coisas, que ele também havia tido gonorreia. E foi além, deu detalhes dos sintomas: a coceira, a purulência e a vermelhidão.

Ambos riam das suas histórias. Eu, enquanto isso, ia me apequenando.

Da gonorreia eu só tinha conhecimento do nome horrendo e que é transmitida através do sexo. Sabia também que era uma doença comum na época. Portanto, não estava chocado pelo fato deles terem contraído. O que me assustava naquilo tudo era o quanto eu ignorava as vivências dos mais velhos. Como se eles não tivessem direito a uma história.

No tempo do meu pai, a geração Baby Boomers, (nascidos entre 1945 e 1964) se fazia sexo. Sim, porque ao contrário do que diz popularmente, a geração Z ( nascidos entre 1995 e 2010 ) é a que menos faz sexo, comparado a outras. Faz menos sexo até que a minha, a geração Y (nascidos entre 1981 e 1996).
Ou seja, quando você vir um velhinho com dificuldades de locomoção ou uma velhinha beata pregando moral, pense no que eles são incapazes de te contar. E quando você vir um jovem de dezesseis anos, imagine que possivelmente ele está mais preocupado em saber se ganhará um Iphone novo do que se fará sexo antes de completar os dezoito anos.

Será que um dia eu poderia contar histórias daquele jeito? E que histórias estaria contando? Desejo profundamente que não sejam fatos esquecidos, ou que possam ser tomados como fabulosos, extraterrenos.

Desde o dia que vi meu pai tendo aquela conversa, olho para ele de maneira diferente. Um pouco do seu passado ganhou luz. E no futuro, quem escutará as nossa histórias?

Dica de filme: Antes de partir (2007).

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