Colunista: Luis Felipe

Nossas riquezas

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Quanta coisa a gente não repara. Às vezes por descuido, outras por falta de tempo ou até preconceito. No meu caso foi por negligência e (admito) um pouco de preconceito, que não conhecia Whindersson Nunes.

Sabia que era um comediante famoso sem graça (alguém me falou), que namorou e foi traído pela Luísa Sonza (vi em algum site de fofocas), que apanhou do Popó num espetáculo que ninguém nunca vai saber se foi luta ou brincadeira (assisti no Youtube), que fez muitas tatuagens, umas no rosto, abaixo dos olhos (vi nas propagandas).

Numa madrugada e eu em férias – época em que subverto o hábito de dormir cedo – dei um play num show de Whindersson disponível na Netflix.

O artista entrou no lindo e lotado Teatro Amazonas; com apenas dez minutos de apresentação, Whindersson já havia cativado a plateia – e a mim. Durante o espetáculo, ele confirmou sua vocação: foi leve e verdadeiro nas brincadeiras, sem deixar o clima cair e o mais importante, não parecia um artista que pouco se lixava para a plateia. Via-se que havia preparado o roteiro da apresentação com muita seriedade, característica que considero fundamental para o sucesso em qualquer atividade.

Durante o show, Whindersson falou da sua fortuna e do quanto tem apego a ela – o que fez em tom de humor, sem parecer um esnobe – e contou uma piada sobre quem nasce rico e não sabe o que é passar trabalho.

Calhou que dias atrás assisti a uma conversa entre outros dois comediantes, Fábio Porchat e o falecido Paulo Gustavo, em que eles falavam do mesmo assunto. Paulo Gustavo em dado momento disse a seguinte frase: “O fracasso dá caráter (frase que não é dele). A pessoa que passa perrengue na vida, fica interessante. A pessoa que nasce rica, vira chata”.

Seria uma benção se as coisas pudessem ser resumidas assim. É claro que nascer com dinheiro não condena o caráter de ninguém e também que nascer pobre não torna ninguém melhor.

Mas mesmo numa conversa despropositada, como entre os humoristas, podem-se extrair reflexões importantes. É verdade que a facilidade de não ter que correr atrás de bens materiais pode tornar o ser humano mais ingrato.

E tudo pelo simples poder da ignorância. A mesma ignorância que pode levar um pobre a crer que o dinheiro traz felicidade.

Olha, é bem possível que a maior riqueza das nossas vidas esteja em um sorriso, um abraço, uma amizade ou um café com alguém que a gente goste, mas por descuido, falta de tempo…a gente nem tenha reparado.

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