Já falei por aqui. Minha ansiedade é nível monstro. Daquelas que levam à morte antes dos quarenta. Mas a fisionomia, meu jeito de andar e de conversar engana bem. Um cara super calmo está entre as frases que mais escuto.
A melhor definição é de uma amiga que diz o Felipe é um poodle. Para ela, as pessoas dividem-se entre os reativos, chamados de pit bulls, e os moderados, os poodles. Portanto, sou uma raça dócil.
Estranho que não é assim que meus pais e meus irmãos me veem. Para eles, sou o cara polêmico, que sempre tem opinião e que não foge de uma briga. Adoram recordar minha infância, quando eu chegava em casa com a cara inchada de choro depois de uma discussão no futebol.
Acabo de perguntar a minha mulher – a pessoa que mais convive comigo nos últimos anos – se ela acha que sou calmo. Ela respondeu ah, não sei, Felipe. Ela só me chama pelo nome quando está irritada. Mas isso é assunto pra outra hora.
Afinal, qual sou eu? Sou todos. E você, que lê este texto, também é um ser humano múltiplo, complexo e por isso encantador.
É pensando assim que afirmo, o maior enigma do mundo não está sob o que a área 51 esconde, no triângulo das bermudas ou se existe o Santo Graal. O mistério maior é o que se passa na cabeça do outro.
Sobre que máscaras as pessoas se escondem? Ninguém sai às ruas com um cartaz dizendo que é assassino e planeja um atentado. Ninguém chega ao trabalho de manhã anunciando que detesta a cara dos colegas.
Esconder-se por trás de máscaras nem sempre é lícito, embora seja necessário usá-las para sobreviver. E não se trata de aplicar mentiras.
Enquanto me livro de um infarto decorrente da ansiedade, sigo escrevendo. Nesse ínterim, não sei o que se passa na sua cabeça. Escritor e leitor, somos mistérios mútuos.
Dentro dessa magia, resiste a nossa firme relação.